Integrated Territorial and Urban Conservation
Restoration of Architectonic and Industrial Heritage
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estuques do Romantismo em Portugal
Durante décadas, os estuques decorativos foram entendidos como uma arte menor e até como uma opção de mau gosto, precipitando a sua destruição, em muitos casos. Apesar disso, persistem em Portugal numerosos e interessantes exemplos desta arte, os quais evidenciam bem a qualidade e diversidade dos programas decorativos e a habilidade dos estucadores (modeladores e executantes). E se houve época em que a arte do estuque português atingiu o máximo do seu esplendor, essa época foi, claramente, o Romantismo. Aliás, o estuque é componente quase obrigatória da arquitectura romântica portuguesa. De certo modo, em Portugal, o preconceito que ainda subsiste face à arte do estuque deriva do próprio preconceito face à arquitectura do Romantismo.
Contudo, nos últimos anos, os estuques decorativos têm suscitado um crescente interesse na comunidade científica portuguesa e nos responsáveis pela gestão do nosso património arquitectónico. São disso reflexo as primeiras jornadas sobre estuques realizadas em Portugal, no Centro Regional do Porto da Universidade Católica (2006), assim como outros eventos semelhantes que decorreram posteriormente, em Cascais (2007) e no Porto (2008 e 2010). Ainda assim, trata-se de um tema muito pouco estudado, sendo difícil tirar conclusões sobre autorias, dado que escasseiam trabalhos monográficos publicados com essa vertente.
O nosso interesse na arte dos estuques do Romantismo – abrangendo uma cronologia desde cerca de 1834 a cerca de 1910 – centra-se nas seguintes vertentes, sobre as quais temos vindo a recolher dados há vários anos:
- Figuras alegóricas / mitológicas e retratos, em tectos de casas de habitação burguesas e de palacetes;
- Programas decorativos de clarabóias;
- Decoração de salas de baile e articulação do estuque com a pintura mural;
- Interpretações vernaculares da arte do estuque em grandes casas do mundo rural;
- Motivos em estuque que também foram reproduzidos em outros materiais;
- Estuques em construções tumulares.
Um primeiro estudo que dedicámos à arte do estuque, encontra-se publicado no livro "Villa Portela", publicado em 2007 pela Gradiva. Na referida obra, abordam-se os mestres estucadores Joaquim Rodrigues Maia, Augusto Afonso Rodrigues Pita, António Martins Afonso Lomba, Francisco Ferreira, Domingos Meira (Domingos António de Azevedo da Silva Meira) e Luís Pinto Meira. Vários destes estucadores oitocentistas tinham as suas raízes em Afife (Viana do Castelo), verdadeiro alfobre de artistas ligados à decoração de interiores.
Em geral, os estuques portugueses do Romantismo são a síntese de vários gostos: neoclássico, revivalismo barroco e rococó, inspiração mourisca, soluções naturalistas, revivalismos góticos e manuelinos, entre outros. Ainda assim, predominam os motivos figurativos da Renascença.
Embora os vários estilos pudessem coexistir nos estuques de uma mesma edificação, era habitual que os mesmos fossem seleccionados para a composição dos tectos (e paredes), atendendo à função específica a que era destinada cada divisão. Por conseguinte, não se pode classificar os estuques do Romantismo como simplesmente eclécticos, sem se perceber que esse eclectismo subordinava-se a regras de bom gosto e, além disso, os revivalismos adoptados não impediam que novas formas e novas soluções emergissem, as quais quase deixaram de ser usadas no século XX. Portanto, os estuques portugueses do Romantismo constituem uma imagem de marca da arquitectura nacional e merecem ser estudados e valorizados como tal.
Se este tema lhe interessa, quer porque é proprietário(a) de um edifício com estuques do século XIX, quer porque está a fazer pesquisa que toca esse tema, não hesite em contactar-nos. Interessa-nos, sobremaneira, uma troca de dados. De facto, um dos problemas do estudo da arte dos estuques prende-se com o facto dos mesmos não serem detectáveis a partir da via pública. Portanto, é quase certo que os melhores exemplos existentes em Portugal, em palacetes e casas de habitação privadas, estão ainda por referenciar e, consequentemente, por estudar. Muitas vezes, a um interior de estuques exuberantes, corresponde uma fachada contida ou estereotipada, pelo que torna-se difícil determinar onde se encontram as melhores obras de estuque do Romantismo em Portugal (com excepção, é claro, dos grandes palácios abertos ao público, como o Palácio da Pena, o Palácio de Estoi, e outros). Oportunamente apresentaremos mais resultados da nossa pesquisa.
Veja também: Cerâmica aplicada à arquitectura portuguesa Influência portuguesa na arquitectura de Pelotas (Brasil)
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