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HISTÓRIA DA Fotografia EM PORTUGAL, No século XIX

OS retratos "Carte de visite"

álbum com retratos "carte de visite"

O posicionamento socioeconómico de uma determinada família pode ser aferido através do seu espólio fotográfico (estando este ainda intacto): a época em que os seus membros tiram os primeiros retratos; a época em que recebem as primeiras ofertas de retratos, por parte de parentes e amigos; os locais onde estes retratos são tirados; todos estes indícios podem ser preciosos para caracterizar a história de uma família. Do mesmo modo, a fotografia antiga permite um melhor conhecimento dos antepassados: a sua fisionomia, a sua estatura, postura e modo de vestir. É claro que muito do que era o retrato, sobretudo na segunda metade do século XIX, dependia da encenação criada pelos fotógrafos: a pose, o cenário de fundo, os adereços e, em alguns casos, também a indumentária. E toda esta parafernália ia alterando-se, seguindo a evolução da moda. Deste modo, o retrato antigo, geralmente em formato "carte de visite" (cartão de visita), tem importância para a História da Arte: ao nível das artes decorativas, do mobiliário e de vários outros aspectos. Tem ainda importância para a História da Técnica. Não podemos também negligenciar os timbres dos fotógrafos, muito interessantes para o estudo do papel timbrado e da História das Artes Gráficas, assim como as dedicatórias, que revelam autógrafos valiosos, cumplicidades entre quem oferece e quem recebe, permitindo igualmente datar, com certa precisão, muitos retratos.

retrato de 1873 retrato de finais do século XIX

Em suma, o estudo da fotografia antiga e do retrato "carte de visite" em particular, tem diversas implicações, para além de ser, obviamente, um auxiliar precioso dos estudos de Genealogia e de História da Família.

Hoje, porém, assiste-se a um perigoso hiato entre os velhos álbuns fotográficos da transição do séc. XIX para o início do século XX e os retratos dos últimos anos do século XX - época em que o retrato já estava banalizado em termos sociais. Muitos desses álbuns antigos, com retratos em formato de cartão de visita, incluem apreciável quantidade de imagens fotográficas não identificadas, ainda que correspondam a antepassados directos dos seus actuais possuidores. Aliás, era comum não colocar, no verso, o nome dos retratados, quando estes eram bem conhecidos. Porém, passaram muitas décadas. Sem conseguir já identificar visualmente esses antepassados, por se terem extinguido já as gerações que podiam ainda lembrar-se deles, os possuidores de tais álbuns tendem a desligar-se afectivamente dos mesmos. Tornam-se mais propensos, pois, a negligenciá-los ou, em muitos casos, a desmembrá-los (para vender ou até destruir parte do espólio), guardando somente algumas fotos previamente identificadas. Mesmo quando não ocorre uma destruição completa do espólio fotográfico familiar mais antigo, perde-se a própria compreensão da lógica de preenchimento destes álbuns, com tais operações de retirada de retratos "carte de visite".

 

Estando a findar agora a última geração que ainda conheceu algumas daquelas pessoas retratadas em álbuns antigos; ou delas ouviu falar; ou para quem a memória dessa gente ainda significa alguma coisa; é importante proceder ao estudo sistemático desses álbuns: uma espécie de inventário fotográfico familiar, antes que as perdas sejam irreparáveis. Este género de inventário terá de ser feito para zonas geográficas perfeitamente delimitadas, em função das relações de amizade e parentesco privilegiadas, por parte dos estratos sociais que, à época, podiam ter acesso à fotografia.

Nas nossas pesquisas sobre Leiria, por exemplo, temos procurado "cruzar" os antigos álbuns de família, uns com os outros, para tentar identificar os muitos retratados que já ninguém sabe quem são. O cruzamento permite identificar, a partir de um álbum, os retratados não identificados noutro álbum, e vice-versa. Isso torna mais valiosos todos os álbuns fotográficos esmiuçados, dado que aumenta o número de retratados identificados, em cada um deles, assim como a natural estima dos proprietários pelos referidos álbuns. Além disso, permite constituir uma base de dados de retratos de determinadas personalidades, útil para diversos estudos, os quais não precisam de ter relação directa com as famílias representadas nesses álbuns.

retrato de finais da década de 1850

É verdadeiramente necessário iniciar essa espécie de inventário fotográfico, a partir dos álbuns de família mais antigos, com os quais a ligação afectiva dos proprietários já não é tão forte, sendo estes álbuns cada vez mais um Património comum e já não só um mero Património familiar. Esse inventário terá particular sucesso e utilidade se for iniciado em áreas geográficas mais pequenas, de modo sistemático, devendo ser depois alargado a zonas confinantes.

 

ContactoSe este assunto lhe interessa, antecipadamente agradecemos o contacto.

 

retrato amador retrato profissional no exterior (início da década de 1920)

Embora esta página seja dedicada ao retrato "carte de visite", também nos interessa o retrato amador e a fotografia de exterior, de espólios profissionais e amadores, datando de finais do século XIX e dos inícios do século XX, sobretudo na perspectiva da História da Arquitectura e do Urbanismo, dado que são documentos preciosos para registar determinados sítios e edifícios que desapareceram ou foram muito transformados. Nesse sentido, estamos disponíveis e interessados em colaborar no inventário e catalogação de espólios fotográficos antigos, especialmente ao nível da identificação de locais.

fotografia da segunda metade da década de 1880  

 

Ver também:

Colecção Foto Beleza - "Espólio Fotográfico Português"

História do Papel Timbrado em Portugal

Os primeiros retratos de matriz fotográfica nos cemitérios portugueses (1885-1890). Notas para uma biografia de Albino Pinto Rodrigues Barbosa

 

© Francisco Queiroz

  todos os direitos reservados (texto e imagens)

Em linha desde (online since): 2004 | Página actualizada em (last modified): 13-11-2014